Do encadeamento de escolhas

De quando em quando fazemos coisas que não podemos desfazer. Um encontro em que se perde a hora, um comentário mais ácido que não consegue se segurar, um elogio mais delicado antes do devido. É longa a lista. Em um segundo a palavra vem a sua cabeça, em outro sai, no terceiro se quer trazê-la de volta, fracasso. Parece-me que a vida é como uma gigante cadeia de acertos e erros e a probabilidade marginal de se avançar positivamente, ao longo de um relacionamento, é decrescente. Se a cada escolha podemos ou acertar ou errar, se temos chances iguais disso, a chance de errar em uma escolha é de 50%, de errar em duas é de 75%, em três 82,5%, e aumenta sem parar. É claro que há muitos fatores que influem no esquema. As afinidades, compatibilidades, mudam as chances de acerto e erro a cada iteração, tendemos a acertar mais quando conhecemos melhor o outro, quando ele adquiriu alguns significados importantes para nós. Além disso, o impacto de um erro é diverso, dependendo de como o outro te vê, uma pessoa querida, próxima a você terá uma maior resistência aos seus erros até que se torne insustentável qualquer continuidade.  Apesar disso se olharmos atentamente para o sistema descrito veremos que não importa com quem se dê nossa interação, a tendência é caminhar para o erro, para o desentendimento.

August 1, 2008 at 10:29 am 1 comment

Um bom relacionamento

Um bom relacionamento é aquele em que duas pessoas, auto-suficientes e independentes, resolvem aproximar-se uma da outra, não por carência, nem por necessidade. Elas ficam bem sozinhas e não precisam do outro para se sentirem completas. Duas pessoas, assim, completas, podem optar (é de se pensar o quanto verdadeiramente é uma opção a escolha de ficar junto com alguém que, sem ele, não conseguimos suportar a sensação de incompletude. Só há opção quando há liberdade) por ficar juntas.

Essas pessoas devem ser antes de tudo, não cronologicamente, mas em termos de importância, amigas. Conhecendo e valorizando sua própria individualidade podem elas estar juntas em um relacionamento de respeito das diferenças, ao invés de concessões. Necessariamente, com o passar dos tempos, todos desenvolvemos uma série de características, valores, manias, hábitos, idéias que são únicos e que definem o que nós somos, abster-se disso é aceitar ser menos aquilo que nos constitui e mais o que outro gostaria.

É assim, prezando o que é de cada um, sem impor o meu ao seu que podem ao mesmo tempo se desenvolver o amor, o afeto, o carinho, o respeito, a atração, em suma o bom relacionamento e, ao mesmo tempo, a individualidade.

É interessante reparar que quando as coisas se desenrolam de maneira diferente então os dois caminhos, o de estar junto e o de ser um indivíduo único acabam tomando caminhos opostos e, com algum tempo, se tornam incompatíveis. Penso que não devemos seguir por um caminho que te obriga a optar por aproximar-se do outro ou aproximar-se de si próprio.

July 20, 2008 at 9:29 pm 4 comments

O ar da cidade liberta

A vida carece de sentido. É fácil a comprovação empírica, basta ver o tamanho desenvolvimento que houve até os dias de hoje da ciência, que dá sentido racionalizando, da religião, que dá sentido transcendendo, da astrologia, alternativa mística. Outra maneira de se constatar a forte necessidade que o homem tem de imprimir um sentido à vida é o crescente número de workaholics. Trabalhar, trabalhar, trabalhar, enquanto estamos ocupados essas dúvidas e dores existenciais são bastante amenizadas, pra alguns é o trabalho mesmo que dá o sentido pra tudo, há quem morra depois de se aposentar. Se se tem em conta que se é um em meio a bilhões de outros essa necessidade se torna ainda maior, sendo individualmente menos e menos importantes para o todo há que se perguntar se existe algum motivo em absoluto. Quanto mais aprendemos e percebemos que o mundo é vasto, mais difícil parece ser encontrar o norte para essa sucessão de lugares, sensações, fatos, acasos, pessoas que passam rapidamente por nós.

Sem embargo, vejo nessa dificuldade motivo para grande comemoração. A dor derivada do sentimento de insignificância cósmica, de indiferença do mundo perante nós, ao mesmo tempo em que flagela, liberta. Não haver um sentido destrava infinitas possibilidades. Permite que cada um escolha, mude, ajuste, seu próprio sentido ao sabor dos acontecimentos, mais que isso, possibilita viver sem obrigação de qualquer direcionamento. “Stadtluft macht frei” (o ar da cidade liberta), mais que isso, quanto maior a cidade, maior a liberdade. É ninguém saber quem você é que lhe permite ser aquilo que quiser. A pressão interna de corresponder a esta ou aquela expectativa é tremendamente amenizada quando todos são estranhos a sua volta.

July 2, 2008 at 8:29 pm 3 comments

A luz silenciosa

Algumas vezes não sabemos bem de onde vêm as coisas, os medos, os sentimentos, os desejos, isso não impede que eles nos penetrem, inundem, preencham completamente. Por vezes não existem culpados, as razões não são claras, a hora é inesperada. Nada disso torna tudo menos verdadeiro, intenso, real. Dentre todas as oportunidades e alternativas algumas das mais interessantes tem pouca lógica, parecem, e talvez sempre sejam, incompreensíveis. Não pense, não pergunte, não reflita, sinta. Às vezes a luz é silenciosa e a única coisa que nunca poderemos é voltar no tempo.

June 18, 2008 at 11:02 pm 5 comments

N’allez pas trop vite – segunda parte

Saio do carro, fecho a porta. Bip-bip. Penso se liguei o alarme por costume ou por medo, talvez um dia tenha sido o medo. Passando pelas janelas vejo meu reflexo, o cabelo voltou, eu sabia que voltaria, arrumo de novo, agora sim, iludo-me, sigo. Já reparou na velocidade das pessoas no banheiro bem cedo? É um pouco assustadora, aposto que se vendassem todos, não haveria problema algum. Adoro torneiras de botão, é uma daquelas invenções simples, óbvias depois de feitas, faz parte das coisas que você aprende num clique e rapidamente esvaecem. Dentro da sala de aula cada pessoa conversa com alguma outra, alguns dormem sobre as carteiras, dois lêem, três pessoas discutem um problema na lousa. Sento mais ou menos no mesmo lugar, a mesa é um pouco inclinada, um tanto torta. A aula passa no tempo em que passa, um tempo de certo modo flexível, alguns tópicos passam rápido, outros exercícios arrastam os ponteiros. Não entendo tudo, não ignoro nada.

Entre uma aula e outra sempre vou andando. Colocaram algumas placas novas pelo caminho essa semana. Animais na pista, nunca vi nenhum. Não sei se olho pra cima, pra baixo, se presto atenção nos outros ou nas coisas. Alterno e caminho. Várias nuvens formando uma linha; lembro da explicação das correntes de ar com sentidos opostos. No universo da cultura o centro está em toda parte. Apresso o passo, a fila é longa. Dizem que brasileiro adora fila, um dia descubro. Pilhas de pratos, alguns parecem ter muitos anos, marcados de inúmeras garfadas, quantas pessoas passaram pelos lugares por onde eu passo? Logo atrás ouço histórias sobre assuntos que desconheço, Sobota, Poisson, Bernays. Não vejo os rostos, imagino pelas vozes. Mais graves, menos sorridentes, mais agudos, menos sérios. Existe alguma relação com voz e aparência? Todos os dias iguais, todos os dias diferentes. Fila de entrada, fila de saída.

June 6, 2008 at 9:54 pm 1 comment

N’allez pas trop vite – primeira parte

Seis horas da manhã…
Acordo, escovo os dentes, me visto, como, dirijo.
Assisto aula, como, assisto aula, dirijo.
Estudo, relaxo, como, tomo banho, durmo.
Seis horas da manhã…

Seis horas da manhã. Dormi um pouco tarde no outro dia, percebo que a janela não esteve completamente fechada durante a noite. As roupas no pufe continuam lá, bagunçadas, o tênis no chão, curiosamente sempre com um pé de ponta-cabeça. Levanto olhando em volta, procurando aquele canto que não costumo enxergar, vejo um cd velho no meio dos outros, Silverchair, lembro dos quatorze anos. Vou até o banheiro, a toalha que era azul agora é verde, reparo na grande quantidade de remédios dentro do espelho, penso como é curiosa a idéia de algo estar dentro do espelho, fecho. Enquanto escovo os dentes vou lendo o rótulo da Colgate, as letras em português são sempre as maiores, deve ser bem ruim para os outros países latinos usar um produto que a sua língua está em letrinhas pequenas.

Durante o café da manha olho para as panelas, será que é todo mundo guarda elas encaixadas umas nas outras? Olho o requeijão, a manteiga, penso no processo de fabricação delas, logo desisto, desconheço. Ponho o prato na pia, vou até a janela, vejo o vizinho já de pé regando as plantas, lembro do Bonsai que tive, do fertilizante que comprei, era uma água verde, como era mesmo seu nome? Não importa. Pego as chaves, vou até o elevador. Enquanto espero abro a tampa do hidrante, imagino aquela mangueira achatada se dilatando, a água saindo com pressão, como será que é estar em um incêndio? SS, a porta fecha, olho o cabelo no espelho, nunca está como eu quero, mexo para um lado, acerto do outro, sei que quando eu sair ele vai voltar como estava antes, mas não verei então saio seguro.

Dou a partida, ligo o rádio, ouço o macaco meio solto no porta-malas. Indo, reparo nas guaritas dos prédios, algumas são como caixas-fortes, outras simpáticas casinhas, às vezes têm insulfilm, um porteiro, dois porteiros, penso nos nomes dos porteiros que conheci. Farol vermelho, paro, passa uma moça segurando um menino pelo braço, como será o nome dele? Será que ele gosta mais do Batman ou do Super-Homem? Abriu, acelero. Chego à faculdade, alguns carros já estacionados, uns até com motorista dentro. Sem meias, lendo jornal, uns dormindo, alguns acompanhados, conversando. Estou sozinho no meu, não me incomoda, aumento o volume do rádio, a bolsa caiu ontem de novo, lembro dos amigos que devem ter perdido bastante dinheiro, com que será que as pessoas gastam o dinheiro delas? Provavelmente com coisas bem diferentes das que eu gastaria, mas quais?

May 28, 2008 at 6:43 pm 4 comments

Aprendizado

Como tem sido evidente, a cada texto modifico em algum aspecto a forma que ele apresenta. O objetivo deste é, tendo como mote uma pequena incursão de caráter autobiográfico, mostrar algumas idéias que desenvolvi e creio que possam ser apropriadas por boa parte dos que porventura vierem a ler isto.

Algumas vezes é bastante complicado admitir algo. Dar o braço a torcer por vezes é demasiadamente difícil. Tenho muitas vezes sustentado uma argumentação, aparentemente, contrária a que desenvolverei aqui. Creio, contudo, que a contradição é apenas aparente, já que considero não me expressar com a devida clareza quando o assunto é Administração. Fiz um ano e meio do curso de bacharelado em Administração e este muito me frustrou. Apesar disso, algumas coisas boas dele ficaram, e creio que seria uma pessoa bem menos completa sem elas. Não vejo contradição necessária de uma única situação levar a frustração e, ao mesmo tempo, aprendizado. Concentrar-me-ei aqui no que de bom guardei, naquilo que aprendi e melhor pude aplicar a minha vida. Em uma próxima oportunidade falarei sobre os motivos de frustração.

O mais importante daquilo que ficou de bom é, sem embargo, no âmbito do aprendizado, a gestão do conhecimento. Ninguém percebeu melhor do que os administradores que aquilo que já foi feito deve ser reutilizado e não refeito. A idéia parece bastante óbvia, porém creio que as pessoas no geral enxergam bem pouca utilidade nela, já que a restringem ao âmbito da gestão empresarial, tendo dificuldade de transportá-la para outras áreas da vida.

Errar é humano e aprender com seu erro é razoável. A inteligência, porém se encontra em aprender com o erro dos outros. Procuro, sempre que possível, não aprender as coisas sozinho, não deixar, exceto quanto estritamente necessário, que seja o meu erro a me ensinar, mas a experiência prévia de outrem sejam estas transmitidas por exemplos, livros, conversas, palestras, aulas, músicas, manuais. Muitos alegam, acreditam e defendem que certas coisas você deve necessariamente aprender fazendo. Eu vejo verdade apenas parcial nisso.

Amar se aprende amando, se aprende sendo amando, é verdade. Mas aprendemos também a amar com o cinema, aqueles filmes que tocam nossos sentimentos de alguma maneira e por meio de situações externas a nós, mudam nossa maneira de sentir, com as músicas que condicionam nosso discurso amoroso, com o fim do namoro do seu melhor amigo, aprendi muito sobre o amor com um livro na semana passada (GIKOVATE, Flávio. “Uma História do Amor… Com Final Feliz”, 2008). Se alguém teve experiências que o levou a compreender melhor algo e de alguma maneira esforçou-se por comunicar esse aprendizado, querer chegar a ele pela mesma via é perda de tempo. Tempo é recurso escasso.

Hoje estou convencido de que a única maneira de realmente chegar mais longe é começar a frente. Vejo assim todos os aspectos da vida: o trabalho, o parceiro, os amigos, o autoconhecimento. Não há tempo hábil para que todos trilhem o caminho até a maturidade sem qualquer auxílio. Do mesmo modo que ninguém acha estranho cursar engenharia para aprender a construir uma casa, ao invés de se empenhar em tentativas sucessivas até um resultado satisfatório, não deve soar estranho que o mesmo deve suceder para nossas relações pessoais, para o trato com nossos sentimentos, para a maneira de enxergar o mundo.

Penso que especialmente no âmbito das relações humanas o aprendizado pela experiência própria é um caminho árduo a ser trilhado e permeado por muito sofrimento. Sofrimento só faz sentido quando gera aprendizado que não pode vir de outro modo. Aprender sobre os sentimentos, sobre as relações interpessoais, sobre nós mesmos, por meio da experiência alheia é renunciar a sofrimento desnecessário, é caminhar para uma qualidade de vida muitíssimo superior.

May 17, 2008 at 8:48 pm 4 comments

Eleanor Rigby

A inspiração para escrever costuma vir de fontes diversas. Algumas vezes um amigo, parente me sugere ou pede um tema. Vêm a mim reflexões sobre um assunto, geralmente no carro dirigindo, às vezes andando, outras de maneira totalmente aleatória. Entre duas ou três linhas de algum livro ou em algum filme e, finalmente, em músicas. Deixo as músicas por último porque as idéias que vêm dela geralmente chegam com uma dinâmica diferente, não são mais numerosas, tampouco são mais importantes ou elaboradas, aquilo que as distingue é o forte apelo emocional que provocam, escolhi para ser meu primeiro mote musical aqui no blog uma música dos Beatles, Eleanor Rigby (colo ao final do post a letra completa).

Eleanor Rigby conta a história de dois personagens, a própria Eleanor e o padre McKenzie, que são retratados como símbolos representativos das pessoas solitárias como um todo. Em poucas palavras a história é como se segue: tanto Eleanor como McKenzie são pessoas solitárias. Ela trabalha na limpeza da igreja, sonha em se casar, espera pelo seu amado todos os dias. Ele escreve sermões que nunca ninguém escutará, passa a noite sozinho costurando suas meias. Eleanor morre na igreja, é enterrada junto com seu nome, somente. Ninguém veio a seu encontro. Mckenzie saí da cova, limpa suas mãos. Ninguém foi salvo por suas palavras.

Vejo alguns pontos particularmente interessantes nessa história. Há tanto homens como mulheres solitários. As pessoas muitas vezes têm dificuldade de encontrar umas as outras (a única interação entre Eleanor e McKenzie acontece quando o padre enterra a moça). A solidão não é necessariamente ruim, em nenhum ponto da história fica patente a tristeza, sofrimento, desespero, talvez nem mesmo a frustração possa ser colocada como presente. Penso que não há modelo certo para viver. Casar ou não casar, ter ou não ter filhos, sair ou não da casa dos pais, ter ou não ter amigos. Há dentro da sociedade aquilo que é mais comum e, fruto de um desenvolvimento cultural e social, mais almejado.

É certo que você conhece alguma pessoa que possa classificar de desajustada, desalinhada, diferente, excêntrica. Em todo conjunto de pessoas, podemos distinguir alguém que absolutamente não se encaixa no padrão modal, mais comum. Seja alguém um pouco mais feio, menos inteligente, menos sociável, menos emocionalmente desenvolvido, alguém com gostos demasiado diferentes, todos conhecemos alguém que um dia tenhamos parado pra pensar, o que será que a pessoa faz no fim de semana? Onde vai? Com quem fica? Quem namora? Quem ama? O que ama? Ama? Esta série de questionamentos pode culminar, algumas vezes, em sentimento de pena, de piedade. Vejo este sentimento como bastante injusto e arrogante, já que é fruto de um juízo de valor em favor de si em detrimento do outro. Quão bem resolvidos somos e quanto problemáticos são os outros? Quanto nosso jeito de agir é o certo? Quanto existe o certo?

Percebo inúmeros problemas potenciais no uso do juízo de valor, diversas conseqüências negativas que dele derivam. Todavia não conheço alternativa, será o homem capaz da imparcialidade? Será mesmo desejada? Permaneço buscando, embora escassas sejam as pistas e tortuosos os caminhos.

(more…)

May 10, 2008 at 2:41 pm 4 comments

Expectativa

Há alguns dias atrás meu computador parou de funcionar, a fonte já não funciona mais como deveria. Esse fato me afastou um pouco da internet o que, por sua vez, tornou o Desideas um pouco abandonado. Sempre que levo mais que poucos dias para escrever algo fico pensando nas pessoas que aqui entram e nada encontram, em como elas se sentem antes de apertar enter e depois da página ser carregada. Essa relação é uma relação bem simples na verdade, que inclue expectativa, resultado e frustração.

Os administradores possuem uma formulinha para esse problema S=R/E (satisfação é o resultado dividido pela expectativa, ou seja, quanto menor a expectativa e maior o resultado, maior a satisfação), penso que essa idéia é válida, mas de certo modo simplifica demais algo que no fundo é tão menos objetivo. Sou uma pessoa indicada pra falar de expectativas, ja que convivo bastante com elas, muito mais as minhas próprias do que as de outros. Penso como já escrevi anteriormente que os maiores obstáculos são internos, ou seja, as barreiras que nos distanciam de qualquer um de nossos objetivos vêm de toda parte, mas as de maior intransponibilidade são aquelas que nós mesmos colocamos, algumas das mais expressivas são o medo da felicidade (como nas teorias de Flávio GIkovate, falo em outro momento sobre isso), a auto-sabotagem, a falta de confianca, creio que vale dizer que além dos maiores obstáculos, as maiores expectativas também são internas. De todas as pessoas que queriam que você passasse na prova, escrevesse um bom post (dando assim um exemplo metalinguístico), se reconciliasse com seus pais, parasse de fumar, com certeza foi você quem mais colocou fichas nisso. Essa idéia nos leva a pensar que cada um tem a impresão de ter muito mais fichas que os demais, é a falsa idéia do “só eu tenho muitas preocupações” ou do “meus problemas são mais complicados e mais importantes” que já passou pela cabeça de todos nós quando, na verdade, só é uma questão de perspectiva.

De todo modo, a nossa expectativa é tão imensa e pesada. É pesada, já que sua presença afeta todas as suas atividades durante todo o tempo até o evento em questão, enquanto a expectativa sobre o outro funciona apensa como uma ansiedade, curiosidade, torcida. Essa diferença se dá pelo fato de que controlamos, pelo menos em algum nível, o resultado (lembre que S=R/E), quando com os outros muitas vezes todos os fatores estão longe de nosso alcance. Não creio que sejam novidades ou idéias de todo originais, mas vale dizer que a melhor opção para lidar com essa situação é focar no R, fazendo isso você aumenta as chances de um S maior e, principalmente, tira o seu foco do E, que tanto gera ansiedade, nervosismo.

Digressão

É patente o grau de experimentação com que tenho conduzido Desideas, seja por não ficar contente com um tema,uma idéia, seja por tentar estilos novos, formatos diversos. Creio que ainda busco o caminho ótimo, tenho algumas pistas, tentativas frustradas, alguns sucessos, mas ainda não consigo ver qual o melhor caminho para chegar naquilo que considero fascinante. Deve-se isso em muito a simplesmente não ter certeza quais são as idéias e métodos que simplesmente impressionam a primeira vista e quais são estiística e substancialmente profundos e interessantes. Continuo testando…

April 25, 2008 at 6:16 pm 4 comments

Capacidade de criação

Tenho pensado em diversos assuntos ultimamente, é incrível como em algumas épocas somos inundados por milhões de idéias, muitas delas escorregadias demais para retermos, outras simplesmente não entendemos bem o suficiente para que possamos tirar proveito, há ainda um terceiro grupo que entendemos, fixamos, mas não fazem sentido senão pra nós mesmos e dessa forma perdem boa parte do seu potencial. Creio que o poder das idéias se encontra sempre na difusão delas, mesmo as que não incluem várias pessoas na sua execução apreciação, talvez isso seja fruto da minha competitividade. Sempre fui competitivo, conheço poucas pessoas que me superam nesse quesito (e estou longe de considerar isso como uma grande qualidade). Há algum tempo interiorizei uma idéia, que não sei exatamente de onde tirei, ou se eu mesmo desenvolvi (menos provável), creio que ela tornou a competitividade em mim uma coisa bastante mais proveitosa para todos.

A idéia consiste em valorizar não o trabalho, mas a capacidade de trabalho. Então “ganha”, não quem consegue tirar mais frutos de um trabalho, mas quem demonstra a maior capacidade de criação. Essa é uma das idéias em que se apóia o conteúdo livre, esse é o porquê eu não me importo que copiem algo que escrevi, que utilizem de idéias que pensei. Se tenho mérito, este não é minhas idéias, mas a capacidade de criá-las e expressá-las. Esse também é o porquê um homem que ficou rico com seu trabalho se não tiver nada hoje, provavelmente em um ano terá conquistado novamente grande riqueza material e um homem, tendo sido pobre toda a vida e ganhado na mega sena, ao final de um período será novamente pobre.

Essa é uma das coisas com as quais sempre fiquei fascinado em relação ao mundo em que eu vivo (já que a realidade é simbólica não posso afirmar que é o mesmo que você vive, não é), com como nascemos imiscuídos num jeito de viver que nos envolve e nos penetra, particularmente a idéia das múltiplas características dos objetos. É só olhar para qualquer objeto que, com os olhos, nele vemos apenas as características físicas e somente elas. Todo o mais que temos de informação nele é contido nessas idéias e símbolos interiorizados a muito tempo em cada um. Utilidade, posse, perigos, lembranças. É como se a cada objeto acompanhasse um pacotinho de características imateriais, o mais interessante é que somente, e a rigor nem mesmo ela, a parte física do conjunto é comum a todos, os acompanhantes são sempre diferentes para cada um.

April 18, 2008 at 7:18 pm 4 comments

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